Todo dia a mesma noite

Esse livro me deixou mal por dias, enquanto lia, enquanto pensava a respeito e após terminá-lo. Uma história que já fez meus olhos encherem de lágrimas lá pela página 20. Na época do ocorrido doeu, agora continua doendo e, apesar de já ter se passado seis anos, não vai parar tão cedo. A autora e jornalista conseguiu passar, da forma mais delicada que pôde, a dor dos pais e amigos das vítimas. Acredito que ninguém mais conseguiria fazer um trabalho tão impecável como foi o da Daniela Arbex. Sensível, humano. Tantos jovens com muitos planos, sonhos e tanta VIDA pela frente faleceram na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 levando junto a alegria de seus familiares e amigos. É difícil, ainda, ver que nenhum responsável foi punido até o momento e muito menos sabemos quando serão. Um livro que eu recomendo fortíssimo, mas já aviso que da primeira a última página vai te trazer sentimentos de tristeza, revolta e desolação. "Era preciso coragem para enxergar, além dos corpos, fragmentos de suas histórias. Cada pertence resgatado reconstituía a individualidade das vítimas." "Aos poucos, as peças daquele imenso quebra-cabeça de dor iam se encaixando e formando capítulos de vidas que nove horas antes ainda pulsavam." "Aquela não era mais a sua menina. Era o corpo número vinte." "Não que fosse fácil para eles a constatação da perda, jamais seria, mas a dúvida também tinha um efeito arrasador. A esperança de que o ente querido não estivesse dentro do ginásio, no entanto, continuava viva até o último minuto." "Ao se candidatar à adoção de uma criança negra, como ela e o marido, não encontrou dificuldade para ser acionada pelo Fórum de Santa Maria, já que a cor branca continua sendo prioridade para os cerca de 6 mil candidatos à adoção no Brasil." "Quantos quartos em Santa Maria estarão com as luzes acesas agora?"

Jhenifer Souza