Céu sem estrelas
- Jhenifer Souza
- 6 de dez. de 2019
- 3 min de leitura

Conheci a Iris no ano passado em eventos de Bienal e Flipop e desde então, quis ler seu livro, primeiro por causa da capa e título e depois por saber que tinha uma protagonista gorda. Céu sem estrelas conta a história da Cecília, uma garota que acabou de completar 18 anos, perdeu o emprego e tem muitos problemas em casa. Ela sai pra comemorar o aniversário com seus melhores amigos e depois precisa dormir na casa da melhor amiga, Iasmin, por ter bebido demais. Ela se sente muito envergonhada pelo fato de que o irmão de Iasmin, Bernardo, a viu bêbada e é revelado que ela sempre teve uma queda por ele. O livro tem ponto de vista da Cecília e do Bernardo, porém com um protagonismo maior para ela. O Bernardo é apresentado de forma bem legal, porém ao longo da história, vemos algumas atitudes de cara que não é necessariamente babaca mas anda com caras que são e não fazem nada pra mudar isso, tornando-se assim farinha do mesmo saco. Bom, esse é o Bernardo. No entanto, ele é ótimo com a Cecília e foi um casal que eu torci muito desde o começo. Já a Cecília, além dos problemas que citei acima, também tem problemas psicológicos e questões com seu corpo. A Iris aborda, principalmente, a saúde mental neste livro, de uma forma muito responsável e didática, mostrando que fazer terapia é um processo que durará por muito tempo, às vezes até para o resto da vida. Não é começar hoje, melhorar mês que vem e nunca mais precisar ir às consultas, sabe? Ela traz isso de forma muito realista. A princípio, Cecília acha que ter um acompanhamento psicológico é coisa pra quem está louco (o que muita gente, infelizmente, acha também), mas aos poucos suas amigas ajudam-na a entender e deixar esse preconceito de lado. Além de saúde mental, o livro trata assuntos como relacionamento abusivo, o racismo que as pessoas negras sofrem ao procurar emprego e dificuldade que pessoas deficientes têm para andar pela cidade e entrar em alguns lugares, fazendo parecer que não são bem-vindas. História fantástica. Uma das melhores leituras do ano.
"Era como me afogar em águas rasas, sem perceber que podia simplesmente colocar os pés no chão." "Como alguém achava que estava no direito de opinar sobre quem eu era, o que vestia? Como alguém se sentia no direito de me deixar mal só por existir? E, acima de tudo, como eu permitia aquilo e ainda levava a sério cada uma daquelas acusações, cada uma daquelas pessoas que tratavam meu peso como minha principal característica? O que chegava antes de mim, o ponto de referência." "Se você precisa fazer algo várias vezes para achar bom, não é bom de verdade." "E eu tinha razão: se algo era bom, você sabia de primeira." "O abraço dela era a melhor coisa do mundo. O mais próximo que eu tinha de um lar." "A dor era toda na minha cabeça, mas isso não a tornava menos real." "Acontece que eu não estava conduzindo nada, nem a mim mesma. Me sentia muito calma e muito vazia, do jeito que o olho de um tornado deve se sentir, movendo-se pacatamente em meio ao turbilhão que o rodeia."
"Pensei que só precisava contar a ele o que quisesse. Isso controlaria a imagem que ele faria de mim, e ele continuaria se achando muito esperto."
"E naquele olhar enxerguei o mundo inteiro."
"Parte de mim queria escapar, mas um desejo mais forte me mantinha ali, olhando para ele, memorizando cada pedacinho do rosto que eu conhecia tão bem, que havia me trazido amor e dor em tão pouco tempo."
"A cada pequena coisa que compartilhávamos, eu me sentia mais próxima a ele, e mais vulnerável. Era mais rápido do que eu esperava e até mesmo desejava. Ainda assim, era exatamente do que precisava. E nada me assustava mais do que precisar de alguém." "Tudo que conseguia lembrar era do céu sem estrelas."
Jhenifer Souza
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